sexta-feira, 19 de junho de 2020

Pacientes ainda lidam com sequelas após cura por Covid-19

Nem sempre receber a notícia da cura do coronavírus significa estar completamente livre da doença. Para uma parcela dos diagnosticados, as sequelas causadas pela doença ainda se faz presente na vida daqueles que venceram a luta da Covid-19.

Estudos realizados por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apontam que o novo coronavírus pode ser uma doença multissistêmica, ou seja, podem acometer outros sistemas além do respiratório. Com semelhanças de outros vírus, é possível que o coronavírus possa atingir o miocárdio, causando uma inflamação no coração e, consequentemente, apresentar uma repercussão cardiovascular.

De acordo com o Departamento de Hipertensão Arterial (DHA) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), 30% da população recifense é diagnosticada com a doença e, por isso, estão na lista de risco também para infarto, arritmia, insuficiência cardíaca, aneurisma, Acidente Vascular Cerebral (AVC), perda da visão, insuficiência renal, entre outros problemas cardiovasculares.

Mas, apesar da cura, as sequelas do coronavírus podem permanecer nos pacientes meses após receberem alta. Sintomas comuns entre as pessoas diagnosticadas com a Covid-19 como perda de olfato e paladar, dores musculares, dificuldade para respirar e dores nas articulações, além de problemas nas funções motoras e respiratórias podem perdurar por tempo inderteminado.

Para a auxiliar administrativa Lucinalva Maria da Silva, de 52 anos, as dores ainda são parte da realidade da família, que foi diagnosticada com coronavírus.

“Eu tive a Covid há dois meses. Perdi o paladar e o olfato. Apesar de recuperada,  hoje eu ainda sinto dores nas costas, nas articulações. Voltei a trabalhar, mas ainda não me sinto bem. Minha filha também teve a doença e ainda se queixa de dor de cabeça. Só quem tem essa doença é que sabe dizer o sofrimento”, relata.

Em pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (UFSP) foi possível identificar lesões na retina de pacientes já curados da covid-19. Até o momento nenhum dos recuperados sofreu perda da visão. Apesar de não haver indícios de perda total da visão, o pesquisador Rubens Belfort Júnior, explica que as lesões na retina do olho podem ser irreversíveis.

“A retina é sistema nervoso central e sistema nervoso central, uma vez destruído, ainda não tem uma maneira de recuperar pela medicina, então, qualquer lesão na retina sempre preocupa. Não é só uma doença aguda que você tem um resfriadinho e depois de duas semanas fica bom. Alguns pacientes talvez venham a desenvolver lesões crônicas. O aconselhamento é que as pessoas façam um acompanhamento médico contínuo”, informa.

Nesta quinta-feira (18), Pernambuco registrou 31.703 pessoas curadas da Covid-19 no estado. Desse total, 7.785 são de casos graves e 23.918 casos leves. O Diario de Pernambuco solicitou à Secretaria Estadual de Saúde (SES) o número de pacientes que apresentaram sequelas após alta dos hospitais estaduais. Até o momento em que esta matéria foi publicada, não recebemos resposta.

Tratamento

A prefeitura de Olinda lançou, nesta quinta-feira (18), o projeto Pós-Alta Covid-19, voltado para o atendimento multidisciplinar, envolvendo diversas especialidades médicas, para todos os moradores da cidade que foram acometidos pelo novo coronavírus.

A iniciativa conta com acompanhamento para quem já deixou as unidades hospitalares e que se recuperam de sequelas causadas pela doença. Através de uma plataforma digital, os pacientes poderão realizar o cadastro e receber orientações de acordo com o caso.

A equipe é formada por fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos e assistentes sociais, além de pneumologistas e infectologistas. Através do site fisioterapia.olinda.pe.gov.br, os pacientes  poderão preencher as informações de acordo com o seu grau de complexidade, incluindo adultos ou crianças, analisando o comprometimentos das funções motoras ou respiratórias. Na modalidade presencial, os pacientes serão submetidos a nova testagem para o vírus.

De acordo com a Secretaria de Saúde de Olinda, conforme a complexidade, os fisioterapeutas definirão o número de sessões, que poderão ser realizadas em até 20 etapas; a frequência semanal, distribuídas em até três vezes; e as técnicas indicadas, entre elas, RPG, Pilates e auriculoterapia.

A fisioterapeuta Rosely Chaves, coordenadora do programa em Olinda, informou que para a realização do serviço  é necessário que o paciente tenha em mãos a guia de encaminhamento médico para procedimentos de fisioterapia motora e respiratória.

“A partir daí, as equipes vão entrar em contato com a população, que será direcionada para o atendimento remoto, por meio de videochamadas e, nos casos moderados a graves, levados para o atendimento presencial em uma de nossas unidades”, explicou.

Lucinalva Maria agora recebe tratamento através do programa, e relatou uma pequena melhora desde o seu quadro inicial.

“Estou fazendo fisioterapia e acupuntura e já sinto uma melhora. As pessoas tem que se cuidar muito, quem puder ficar em casa fique. A gente tem que acreditar e lutar pra isso tudo melhorar”, relata.


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