terça-feira, 26 de novembro de 2019

Brigadistas são presos suspeitos de incendiar área de proteção no Pará

Segundo a polícia, quatro voluntários de uma brigada de incêndio teriam botado fogo na mata em Alter do Chão para conseguir doações de ONGs. Defesa dos suspeitos nega.

A Polícia Civil do Pará prendeu preventivamente quatro brigadistas que combatem incêndios florestais. Eles são considerados suspeitos de atear fogo numa área de proteção ambiental - e negam a acusação.

A operação foi na vila de Alter do Chão, distrito de Santarém, no Sudoeste do Pará. Os quatro presos fazem parte de uma brigada de incêndio florestal voluntária, que atua na região desde 2018.

Segundo a Polícia Civil, eles são suspeitos de provocar as queimadas em uma área de preservação ambiental, em Alter do Chão, em setembro de 2019. As chamas destruíram a vegetação por quatro dias.

Os investigadores disseram que reuniram documentos, vídeos e interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, que comprovariam a participação dos suspeitos na queimada.

Segundo a polícia, eles teriam botado fogo na mata para conseguir doações de organizações não governamentais.

“Eles gravaram o início de um fogo, de uma queimada, só que só estavam eles, de repente esse fogo perdeu o controle. Ali não teria como começar o incêndio se não fosse por eles”, disse José Humberto Melo Júnior, delegado da Polícia Civil.

Os policiais também cumpriram mandados de busca e apreensão nas sedes da Brigada de Incêndio de Alter do Chão e da ONG Projeto Saúde e Alegria, onde um dos presos também trabalha. Foram apreendidos documentos e equipamentos.

Segundo a polícia, o objetivo é apurar a suspeita de que os presos teriam declarado, em um dos relatórios financeiros da brigada, um valor de doações menor do que o que teria sido arrecadado.

Segundo a polícia, os presos devem responder por dano à unidade de conservação e associação criminosa.

“Tem que ficar bem claro o seguinte, isso é um fato isolado. Existem indícios, nós temos a materialidade, mas não quer dizer que outras ONGs realmente trabalham dessa forma”, disse Humberto.

A defesa dos brigadistas nega as suspeitas.

"O que deve se deixar bem claro aqui é que esses brigadistas estavam agindo em total conformidade com a lei. A questão das doações, do possível dinheiro desviado de doações, isso não procede de forma alguma. Tanto que eles têm em mãos toda a contabilidade probatória dos valores recebidos e dos valores repassados", afirma Wlander Leal, advogado dos brigadistas.

A Brigada de Incêndio de Alter do Chão declarou que as prisões causaram grande perplexidade e que os suspeitos já haviam colaborado com o inquérito após o incêndio de setembro que eles ajudaram a combater, deixando suas famílias e trabalhos em nome dessa causa a que se dedicam.

O coordenador-geral do Projeto Saúde e Alegria, que atua em comunidades de Santarém há mais de 30 anos, também defendeu o trabalho dos brigadistas.

"Uma coisa é o Saúde Alegria e outra coisa é a brigada. Eu conheço pessoalmente os brigadistas e são pessoas que sempre tive confiança, de boa índole. A gente fica muito preocupado, porque uma equipe que trabalha dia e noite nas comunidades, não mede esforços para atuar junto faça chuva ou faça ou sol, passe uma manhã dessa de terror, como foi hoje no nosso escritório em Santarém. Eu queria deixar claro também que a gente desconhece, não sabemos até agora, do que a gente está sendo acusado. Por que foram no nosso escritório sem decisão judicial, com um mandado genérico, para prender tudo", disse Caetano Scannavino Filho.

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