O Motorola V3, um dos celulares mais populares da era "pré-smartphone", pode voltar às lojas ainda este ano em versão repaginada.
O V3 original, também conhecido como Razr V3, foi lançado em 2004. Ao longo dos anos, atingiu 130 milhões de unidades vendidas pelo mundo. Do ano de lançamento até 2008, ele se manteve como o celular mais vendido nos Estados Unidos.
Sofisticado e inovador, o aparelho era um sonho de consumo na época, inclusive entre os brasileiros. Ao apostar em um hardware diferente, a Motorola conseguiu transformar o celular em artigo de luxo e moda, mudando para sempre o setor, ainda que mais tarde tenha sido atropelada pela chegada dos smartphones.
Rival dos tijolões
As especificações do V3 se destacavam em comparação ao que existia no mercado no início dos anos 2000, a começar pelo design. Quando o mercado ainda era dominado pelos tijolões, aqueles telefones em forma de barra, a empresa trouxe ao público um celular de flip extremamente fino e leve. Ele pesava 95g e media 98 x 53 x 13.99mm. Ele tinha, também, duas telas coloridas: a principal, de 2,2 polegadas e resolução de 176 x 220 pixels, e a externa com 96 x 80 pixels.
O corpo do dispositivo era todo feito de metal, incluindo o teclado retroiluminado de alumínio, com os botões praticamente nivelados, mas ainda assim tácteis. A bateria era de 680 mAh, o que proporcionava 250 horas em standby ou 7 horas de conversa. O V3 contava ainda com uma câmera VGA capaz de gravar vídeos, reprodução de arquivos MP4 e compatibilidade com toques em MP3, além dos velhos polifônicos.
Muito espaço para informações e contatos
O espaço de armazenamento era de 5,5MB, impensável pelos padrões atuais, mas o suficiente para a época. Outros recursos do aparelho incluíam Bluetooth, protocolo de e-mail IMAP, navegação na internet WAP 2.0, uma série de jogos e agenda com capacidade para mil contatos. Também havia duas teclas bem interessantes nas laterais: uma para ativar diversas funções enquanto o telefone estivesse fechado e outra de discagem por voz.
Como surgiu o V3
Segundo Jim Wicks, ex-diretor de design da Motorola, em uma entrevista concedida ao The Verge em 2013, fazer o celular mais fino possível era um dos pontos mais importantes. Isso exigiu não apenas soluções de design, mas também tecnológicas. Por exemplo, metal é um material que pode causar problemas de recepção, então os engenheiros reconectaram o dispositivo de modo que antenas e processadores ficassem na base, no característico “queixo” do V3.
Tão moderno e ousado, o produto não foi feito com a intenção de vender milhões, mas sim de mostrar novas possibilidades. Tanto é que o preço era bastante salgado: US$ 449 (cerca de R$ 1.695 em conversão direta), um valor quase inédito para um telefone móvel. Críticos iniciais o viam como uma curiosidade. No entanto, o celular da Motorola logo deslanchou e virou febre entre os consumidores. Presente em anúncios com celebridades, filmes e até como token do jogo Monopoly, ele era considerado descolado. Todo mundo tinha ou queria ostentar um Motorola V3.
Sucesso de vendas
Wicks afirma que o V3 foi o primeiro celular visto como mais que um equipamento prático de comunicação, alçado à categoria de produto de moda, alvo do desejo das pessoas. Outras fabricantes tentaram reproduzir o fenômeno e fizeram aparelhos concorrentes parecidos, como o Samsung SGH-A900, mas nenhum emplacou.
A Motorola surfou a onda do V3 por um bom tempo. Porém, focada em sua fórmula de sucesso, não prestou atenção na nova fase do mercado, baseada em software e serviços. A ascensão dos smartphones por volta de 2007 acabou matando a linha e deixando a empresa à margem por alguns anos. Hoje, a fabricante chama a atenção no Brasil com as linhas Moto G e Moto Z.